sábado, 31 de janeiro de 2009

As crianças tomam Ritalina e os professores tomam Xanax

Porque queremos tudo como antigamente.

Eu defendo que a sala de aula tem que levar uma grande viravolta. A tecnologia avançou a passos largos, mas ainda ninguém se preocupou com o espaço / sala onde se processa o ensino-aprendizagem. Há que mudar a configuração das salas, a disposição das mesas e do mobiliário, os tempos de cada aula, o equipamento de cada sala, a climatização…
Têm que se mudar estratégias e metodologias.
Tem que se pensar em termos de Comunicação e de que forma é que queremos que se processe.
O professor no estrado e os meninos sentadinhos em filas, já era!
Tudo o que se passa na maioria das nossas salas de aula é anti-natural!
Continuamos a querer que todos os alunos olhem para o professor enquanto este fala, como se isso fosse sinónimo de atenção e de concentração!
Os alunos de hoje já nascem com concentração dispersa. É formato, não é defeito.
Quando nascem, os paizinhos levam-nos logo para os supermercados e centros comerciais, a levar com néon, outdoors, barulho…
Começam muito mais cedo a interagir com o mundo que os rodeia, porque são muito mais estimulados. Habituam-se a serem solicitados por milhentas actividades à sua volta e por isso conseguem dar atenção a várias coisas ao mesmo tempo.
Não são desatentos, têm é uma concentração dispersa.
Por isso têm uma postura que parece desadequada a quem nasceu nas gerações anteriores.
-Presta atenção! Diz o professor, que insiste para que o aluno OLHE na sua direcção.
Mas o miúdo está a prestar atenção! Ao professor e a mais duzentas coisas… Resta saber quais as que ganham o seu interesse. É uma selecção natural.
Em termos de comunicação ele está à vontade – tem TV, computador, telemóvel, MP3, ipod… está rodeado de outdoors, cartazes, jornais, revistas, anúncios chamativos e tentadores… tem um comando na mão e está tudo à distância de um click.
Mas ali, na sala de aula, está despojado. Tudo tem que estar desligado, ou ficar lá fora. De repente entra-se para um espaço vazio, silencioso, onde tudo se passa lá à frente, concentrado numa pessoa, que é o professor, que coordena as actividades, e num quadro de giz. O aluno bem comportado tira o boné, senta-se na cadeira de pau, tira um livro e um caderno da mochila e olha em frente. Para falar tem que levantar o dedo e obter autorização, não pode levantar-se, nem virar-se para trás, comer, beber, receber telefonemas, ouvir música, nem sair… durante 90 minutos.
É pré-histórico!
E o professor tem que concorrer com o interesse que desperta uma TV, um computador, um anúncio, um telemóvel, um outdoor…
É indecente!
Mas é verdade.
E quem diz um professor, diz um pai ou uma mãe, em casa. É verdade também.
Nos dias de hoje o professor que consegue prender a atenção de uma turma inteira, é um Super-Homem!
É certo que a maioria já utiliza as novas tecnologias na sala de aula, para estimular o interesse dos seus alunos, diversificando actividades, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Em muitos casos é difícil a coordenação das actividades, porque os alunos são muitos por turma e quando se apanham com um PC nas unhas é vê-los surfar indiscriminadamente…

A Comunicação na sala de aula mudou. Tem que mudar. A sala de aula também. As estratégias e as metodologias têm que ser outras. Os programas, os manuais, os recursos, os tempos e os espaços de cada aula.
Tem que se encontrar uma forma melhor de partilhar o Conhecimento.
Se calhar a ideia de Escola tomará outras formas, não sei.
Gostaria muito de cá estar ainda daqui a 50 anos e poder viver a Nova Escola.

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